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Sheer Heart Attack é o terceiro álbum de estúdio da banda britânica de rock Queen, lançado em novembro de 1974. Foi produzido por Queen e Roy Thomas Baker e distribuído pela EMI no Reino Unido, e pela Elektra nos EUA.[1]

O álbum lançou a banda na popularidade mainstream tanto no Reino Unido como internacionalmente: o primeiro single, "Killer Queen" chegou ao número 2 nas paradas britânicas e forneceram ao Queen seu primeiro no Top 20 nos EUA, atingindo um máximo de n º 12 na Billboard singles chart. Foi também o primeiro álbum da banda a chegar ao Top 20 EUA, chegando a No. 12 em 1975.Sheer Heart Attack apresentou faixas de rock mais convencionais e marcou um passo em direção ao som clássico do grupo. Nos últimos anos, tem sido listados por várias publicações como um dos melhores trabalhos da banda.[2]

Após o lançamento de Queen II o Quarteto da Rainha teve uma agitava rotina, tanto nos preparos para a gravação de Sheer Heart Attack, que saiu oito meses depois, com na turnê pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, iniciada em 1º de março de 1974 e terminada em maio do mesmo ano, um mês antes do início das gravações de Sheer Heart Attack. Então Brian May ficou doente, completando mais uma onda do jogo de “maré de azar e maré de sorte” que a banda vinha tendo desde o final do ano anterior.

 

No último show da turnê do álbum Queen, em Sunbury, Austrália, em 02 de fevereiro de 1974, May foi infectado com uma agulha de vacina e teve o braço esquerdo gangrenado, com uma breve ameaça de amputação. Ele se recuperou do susto, enfrentou a fustigante turnê de Queen II e, em julho de 1974, já durante as gravações de Sheer Heart Attack, foi novamente hospitalizado, com úlcera no duodeno, e precisou ser operado. O músico chegou a declarar: “Eu ficava na cama, me sentia doente e triste porque pensava que o grupo iria em frente sem mim“… Assim que saiu do hospital, May acrescentou a guitarra ao material gravado pela banda até aquele momento, fazendo um trabalho invejável e completando o já complexo fluxo de ideais musicais em jogo no disco, a maior parte delas, incitadas pelo visionário produtor Roy Thomas Baker.

 

Música circense, sons de multidão e, ao fundo, uma guitarra em fade in que marca o ritmo para o falsetto de Freddie Mercury, seguido de destaques pontuais para a guitarra de May, que aqui fará o LEGENDÁRIO solo que ele vinha “cozinhando” há 5 anos. Esta é Brighton Rock, a abertura do disco. May moldava a ideia geral deste solo desde a época da banda Smile, em uma canção chamada Blag (se puder, ouçam). Já em Queen, na canção Son And Daughter, havia a intenção de adicionar um solo aprimorado, porém a ideia foi posta de lado e só aqui, em Brighton Rock, apareceu inteira. É o maior solo de guitarra em uma canção que o Queen já gravou e, pra ser sincero, é o que realmente importa na canção, pois dá a ela a identidade de toda uma geração de rock clássico que a banda agora metamorfoseava em outra coisa. 

De uma pegada meio funk para três guitarras em ritmos diferentes, temos a introdução que é aprimorada no final do primeiro minuto da música (com um excelente acompanhamento da bateria de Taylor), trazendo aumento do tempo e fazendo algo que deixaria muito guitarrista babando pelos anos seguintes, porque a coisa é realmente inimitável, tanto pela sequência cromática, overdubs, escolhas das afinações e ritmos utilizados, quanto pela velocidade, técnica semi-alien e truques que May utilizou e que qualquer um pode comprovar ser igualmente impressionante nas apresentações ao vivo.

 

Killer Queen, um dos mais inteligentes pop rock já gravados e uma das melhores canções do Queen, mostra a marca do perfeccionismo vocal de Mercury, tanto pessoal, quanto nos coros ou vocais de apoio dele e do restante da banda, e traz a curiosa história de uma prostituta de luxo cujo nome, Killer Queen, pode ter várias interpretações. A canção tem um adereço de music hall que é a cara de Mercury e de certa forma definiu — por ter se tornado o hit do disco — algumas atenções dele para esse tipo de canção.

 

As coisas ficam igualmente interessantes na canção de Roger Taylor que vem a seguir, Tenement Funster, a primeira balada do disco, que possui três versos e um coro com melodias inteiramente diferentes mas dentro de uma mesma progressão de acordes, o que a torna fácil, curiosa e bastante agradável de cantar ou ouvir, tendo, claro, uma forte proximidade com o público. Apenas a parte do solo traz harmonias diferentes. É uma ótima forma de colocar uma letra sobre “juventude rebelde” dentro de um arranjo musical que lhe fez todo sentido. E a música na verdade nem termina, ela está ligada, em suas últimas notas, com a faixa seguinte, Flick Of The Wrist, que não é uma canção comum, não apenas porque especula-se que o indivíduo aí seja o empresário Norman Sheffield, com quem o grupo teve problemas, mas por se tratar de uma espécie de medley, uma canção iniciada com acordes de outra faixa e inacabada, pois suas últimas notas fecham o ciclo em outra balada (desta vez, para piano).

 

A belíssima Lily of the Valley, que traz à tona o universo mágico, onírico e sombrio de Rhye (corrompendo a visão cristã normalmente atribuída à expressão “Lírio do Vale”), um reino inventado por Mercury já no primeiro disco da banda, na canção My Fairy King, e que ele revisitou (agora com letra) no segundo disco, em Seven Seas of Rhye. Brian May expressou, numa entrevista de 1999, um pensamento curioso sobre a interpretação dessa canção: "Muitos dos pensamentos privados dele estão lá. Lily Of The Valley foi de uma sinceridade total. É sobre olhar para a namorada e perceber que seu corpo precisava estar em outro lugar".

 

Now I’m Here é uma canção inteiramente esperada para uma banda de hard rock e que possui um ciclo viciante formado por refrão/mino-coro/repetições/ponte… e uma complexa forma de produção, com vocais de apoio em diferentes colorações, vozes-eco, ligação entre os pequenos solos de guitarra e uma letra apaixonada. É a ideia de “simplicidade” do Queen em cena em seu mais alto gosto popular, dançante e intoxicante.

 

Predecessora do moderno speed metal, Stone Cold Crazy, que dizem ter sido composta por Mercury enquanto ele fazia parte da banda Wreckage (mas os créditos da faixa vem exatamente o nome dos quatro integrantes do Queen, o que era raro — aliás, é a única canção do álbum com créditos para os quatro), é um verdadeiro convite para “dançar rock’n’roll“, ou seja, dificilmente alguém consegue ouvi-la sem balançar a cabeça marcando o tempo da canção em companhia de Roger Taylor.

 

Em Dear Friends, o piano é tocado por Brian May (a canção é dele) e tem uma carga afetiva enorme. Trata-se de uma música bastante simples, a mais simples desse lado do disco, uma perfeita canção de ninar. Ela não foi pensada para impactar, mas para refletir, para fazer respirar/suspirar. E funciona muito bem. Eu mesmo já coloquei inúmeras vezes meus afilhados para dormir cantarolando ou tocando esta canção. Dá certo que é uma beleza.

 

Misfire foi a primeira música composta por John Deacon e traz o estranho charme de toda primeira composição tem. É uma canção de amor tão estranha quanto She Makes Me (Stormtrooper in Stilettos), de Brian May. Essa estranheza, no entanto, é a única coisa que as duas compartilham, pois, ao passo que Misfire tem aparência anticlimática, She Makes Me traz a mágica do folk em tempo lento e consegue crescer através de uma repetição inicial para algo vibrante, com direito a dissonância final e uma sirene de ambulância, que foi gravada enquanto May estava hospitalizado, no início da gravação do disco.

 

Por fim, Bring Back That Leroy Brown, que definitivamente marca o início da segunda fase da banda, que era fazer de tudo um pouco e com qualidade, revisitando o passado e dando-lhe uma nova interpretação com os novos ares/estilos do presente. Há diversidade de vozes gravadas e conectadas com acelerações diferentes, há o banjo de Brian May, o baixo extremamente dinâmico de John Deacon e uma sequência de voltas com coro, isolamento de voz e semi-declamação que é um divertimento só.

 

Sheer Heart Attack foi um momento marcante para o Queen. De maneira curiosa, o álbum tem algumas canções praticamente desconhecidas do grande público mas outras que, ao terem seus primeiros acordes tocados, são imediatamente identificadas. Plural e ao mesmo tempo simples (por ser mais “pop”) e complexo (porque estamos falando do Queen), o disco permanece como um documento vivo de uma banda que renascia dentro dela mesma. Um álbum para dar ataques cardíacos em diferentes dimensões musicais, tanto para quem o ama, quanto para quem o odeia.

 

                                                                                                                                                                        Fonte: Plano Crítico

 

 

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